sexta-feira, dezembro 16, 2011

Sessão Cinema - Estômago


Entre comer e ser comido, o estereotipado descobre uma terceira via para garantir sua dignidade. (Geo Euzébio)

O cinema nacional vem crescendo a cada ano, reivindicando seu papel na história da maior arte do século XX. Os filmes brasileiros recebem prêmios e são aclamados pela crítica e agora conseguem também o reconhecimento do público que, cada vez mais, lota as salas de cinema.
Ganhador do prêmio de melhor filme, eleito pelo público, no festival do Rio em 2007, Estômago poderia ter sido apenas mais um filme baseado na idéia clichê do nordestino que vai para cidade grande em busca de dias melhores. Mas com pitadas de bom humor e “Alecrim” a história vai muito além do previsível que o contexto pode sugerir.
Dirigido por Marcos Jorge o filme começa com Raimundo Nonato (João Miguel) contado a história do nascimento de um queijo nobre. Recheada de sabores, aromas e odores a história se passa em dois tempos, narrada através flashbacks, que, de tão sutis, são um deleite que aguçam a curiosidade. Em um deles Nonato está dividindo a cela com outros presos, usando seus dotes culinários para garantir a sobrevivência diária. No outro ele se aventura pela cozinha italiana depois de ser recrutado como assistente de cozinha por Giovanni (Carlos Brianni) refinando um talento, até então, desconhecido. E no meio disso tudo surge Iria (Fabíula Nascimento) que se farta com a comida de Nonato e em troca lhe mostra outras delícias da vida.
Nonato, em todos os tempos do filme, aparenta extrema fragilidade, que transpõe à tela a fábula do lobo em pele de cordeiro. E não por maldade, ele usa essa arma com maestria, afinal, quem nunca ouviu o dito popular que as pessoas são pegas pelo estômago.
Estômago é um grande filme nacional, não é à toa ter ganhado tantos prêmios, sua força está na qualidade das atuações, principalmente no carisma de Raimundo Nonato que subverte a ordem das coisas transformando o esperado em algo, totalmente e deliciosamente, surpreendente.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Mistério de Vida

Quem nunca utilizou um clichê para definir algo comum?
Os clichês, geralmente, são frases de efeito que resumem aquilo que sabemos, mas escolhemos não perceber. Acho que eles servem para nos lembrar outra máxima do dia a dia, a de que a vida está nos pequenos detalhes.
A vida é um mistério sem critério.
A princípio parece uma conclusão filosófica, mas é mais simples que isso.
A vida é a arte de não revelar todas as coisas, de não dizer todos os detalhes, de não explicar todos os desejos, de não contar todos os segredos.
Penso que é esse ar de mistério que impulsiona a vida, que nos faz querer a próxima conversa, ler as próximas linhas, ver o próximo programa ou, simplesmente, assistir a continuação de um filme.
Não há nada muito elaborado, mas por ser uma arte é necessário certo cuidado para manter a atenção. É mais ou menos como um diretor editando um filme, ele precisa ter delicadeza e sensibilidade para escolher o corte certo e colocar tudo numa sequência que mantenha o expectador ávido em saber o que virá.
Quantas vezes você já se pegou pensando se a sequência escolhida para a próxima cena do capítulo da sua vida era a mais adequada? Se ela seria capaz de manter o interesse do seu expectador? Quantas vezes você já parou para pensar se há na sua vida algum expectador?
Agora eu poderia dizer algo bem clichê, como por exemplo, de que você é o grande expectador da sua vida. Mas isso parece mais uma grande baboseira tirada de um livro de auto ajuda. Afinal, ninguém é uma ilha para viver só. E por não quererermos viver sós é que amamos, escrevemos em blogs, damos telefonemas.
Se o critério da vida é ser mistério concluo que a vida da vida está na clareza das entrelinhas, na percepção de que o silêncio diz mais que as palavras e de que, até os melhores diretores tem seus fracassos de bilheteria.