Entre comer e ser comido, o estereotipado
descobre uma terceira via para garantir sua dignidade. (Geo Euzébio)
O cinema nacional vem crescendo
a cada ano, reivindicando seu papel na história da maior arte do século XX. Os
filmes brasileiros recebem prêmios e são aclamados pela crítica e agora
conseguem também o reconhecimento do público que, cada vez mais, lota as salas
de cinema.
Ganhador do prêmio de melhor
filme, eleito pelo público, no festival do Rio em 2007, Estômago poderia ter
sido apenas mais um filme baseado na idéia clichê do nordestino que vai para
cidade grande em busca de dias melhores. Mas com pitadas de bom humor e
“Alecrim” a história vai muito além do previsível que o contexto pode sugerir.
Dirigido por Marcos Jorge o
filme começa com Raimundo Nonato (João Miguel) contado a história do nascimento
de um queijo nobre. Recheada de sabores, aromas e odores a história se passa em
dois tempos, narrada através flashbacks, que, de tão sutis, são um deleite que
aguçam a curiosidade. Em um deles Nonato está dividindo a cela com outros
presos, usando seus dotes culinários para garantir a sobrevivência diária. No
outro ele se aventura pela cozinha italiana depois de ser recrutado como
assistente de cozinha por Giovanni (Carlos Brianni) refinando um talento, até
então, desconhecido. E no meio disso tudo surge Iria (Fabíula Nascimento) que
se farta com a comida de Nonato e em troca lhe mostra outras delícias da vida.
Nonato, em todos os tempos do
filme, aparenta extrema fragilidade, que transpõe à tela a fábula do lobo em
pele de cordeiro. E não por maldade, ele usa essa arma com maestria, afinal,
quem nunca ouviu o dito popular que as pessoas são pegas pelo estômago.
Estômago é um grande filme nacional, não é à toa
ter ganhado tantos prêmios, sua força está na qualidade das atuações,
principalmente no carisma de Raimundo Nonato que subverte a ordem das coisas
transformando o esperado em algo, totalmente e deliciosamente, surpreendente.