terça-feira, junho 26, 2012

Sessão Cinema – Snow Cake (Um Certo Olhar)

Um filme para uma plateia exigente que ainda acredita que o cinema pode iluminar a condição humana.

Há muito tempo queria escrever sobre Snow Cake (Um Certo Olhar), mas não encontrava palavras para descrever meu sentimento. Depois de um tempo li uma crítica dizendo que se tratava de um filme sobre amizade. Acreditei nisso até agora.
Mas revendo o filme me sinto pronta para chegar a minha própria conclusão.
E para mim Snow Cake trata de redenção. Aquele sentimento de quem ganha uma segunda chance capaz de mostrar que os erros não definem quem somos e os acertos são apenas parte de uma escolha.
A redenção pode acontecer através da amizade, do amor e até da tragédia. Tudo isso existe nesse filme e confesso não saber dizer por que demorei tanto para entender.
Talvez, pensando melhor, a resposta seja simples...
Snow Cake é feito poesia, toca, comove, sem precisar explicação.

FICHA TÉCNICA
Diretor: Marc Evans
Elenco: Alan Rickman, Sigourney Weaver, Carrie-Anne Moss, David Fox, Jayne Eastwood, Emily Hampshire.
Produção: Gina Carter, Andrew Eaton, Jessica Daniel, Niv Fichman
Roteiro: Angela Pell
Fotografia: Steve Cosens
Trilha Sonora: Broken Social Scene
Duração: 112 min.
Ano: 2006
País: Reino Unido/ Canadá
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Estúdio: Revolution Films

quinta-feira, abril 19, 2012

Sessão Cinema - Mutum


É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte... Guimarães Rosa

Familiar, assim soou Mutum, mas essa sensação não se deve só a magnífica fotografia, a exuberância da paisagem do sertão e ao modo peculiar de falar dos sertanejos. A verdade é que esses elementos, somados a sensível direção de Sandra Kogut e a belíssima interpretação de Thiago me fizeram lembrar que “o sertão é o mundo e, contraditoriamente, cabe dentro da gente”.
O filme é inspirado na obra Campo Geral de Guimarães Rosa, digo isso porque não se trata de uma adaptação propriamente dita, Sandra Kogut deu ao roteiro uma liberdade que permitiu aos atores, especialmente a Thiago, que a história fosse contada nos termos do sertão atual. E por conta dessa atitude, um tanto arriscada, é verdade, Mutum se transformou numa obra prima, fazendo jus ao legado roseano.
O filme conta a história de Thiago, um garoto de dez anos que vive no Mutum, lugar isolado do sertão de Minas Gerais. Thiago é um menino diferente e é através dos seus olhos que enxergamos o mundo nebuloso dos adultos.
Por seu olhar vamos conhecendo cada personagem que compõe essa história, a mãe amorosa, o irmão e amigo Felipe, o tio conselheiro e o pai violento que considera a sensibilidade um luxo que ele mesmo não pode se permitir.
Nesse ambiente, Thiago, um menino cheio de sentimentos, precisa confrontar e descobrir o mundo ao mesmo tempo em que aprende a deixá-lo.
Uma película sublime que será exibida pelo projeto Cine Sesc, na próxima quarta-feira, dia 25 de abril, às 19 horas, nas dependências do SESC Januária.
Informações e reservas pelo telefone 3621-1089, ramal 205 com Rosinha.

quarta-feira, abril 04, 2012

Sessão Cinema – Os Incompreendidos


François Truffaut foi um dos fundadores do movimento cinematográfico francês conhecido como Nouvelle Vague que se caracterizava pelo mote contestatório que movia jovens diretores no desejo de transgredir as regras do cinema comercial.
Truffaut é considerado um dos maiores ícones da história do cinema do século XX tendo dirigido mais de 26 filmes.
Apenas essa descrição bastaria, mas a gente sempre quer saber tudo e por isso é importante dizer que o filme, Os Incompreendidos, foi indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro e sagrou-se vencedor no Festival de Cannes levando o prêmio de melhor direção.
Para aguçar ainda mais a curiosidade direi também que em seu primeiro longa-metragem Truffaut dirigiu um filme autobiográfico que conta a história de Antoine Doinel um garoto de 14 anos que se rebela contra o autoritarismo da escola e a rejeição dos pais, sendo o personagem considerado o alter-ego do diretor. Os Incompreendidos é o primeiro de uma série de cinco filmes que retrata as diferentes fases da vida do mesmo personagem.
Mas pensando bem não são esses atributos que fazem o filme ser maravilhoso, o mais importante, além dos prêmios e de todo reconhecimento, é o fato de Truffaut trazer a tela um jeito poético de contar as agruras da adolescência. É a sua habilidade de mostrar como “problemas” comuns podem ser amplificados a um ponto desmedido, como o tratamento reacionário pode interferir na vida de um jovem quase o levando a um caminho sem volta. E como o ato de se rebelar pode ser uma maneira de fugir de um destino que parece fatal.
É uma película ímpar onde o expectador é testemunha da genialidade de um diretor, um trabalho de sensibilidade capaz de transformar a atuação de um jovem ator numa dessas raridades que dá ao cinema o título de sétima arte.
Aproveito o ensejo para convidar os amigos a assistirem a próxima sessão do Cine Sesc no dia 11 de abril, as 19 horas, nas dependências do Sesc Januária. O filme exibido será Entre os Muros da Escola, dirigido por Laurent Cantet. Imperdível!

quinta-feira, março 29, 2012

Sessão Cinema - Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos


Primeiro longa-metragem de Marcelo Masagão, um dos fundadores do cinema do minuto e figura conhecida da cena do cinema experimental brasileiro.
Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos aborda o século XX e é construído através de recortes de imagens de arquivo, é um filme mudo, preto e branco, sem nenhum tipo de diálogo, embalado por belas canções e breves frases.
Além das imagens de pessoas conhecidas que marcaram o século XX, o diretor traz personagens anônimos e cria novas histórias a partir da trajetória de pessoas comuns.
O filme teve um baixíssimo orçamento, dos 140 mil reais gastos, mais da metade foi usada para o pagamento de direitos autorais das imagens utilizadas, isso mostra que um bom filme não precisa gastar rios de dinheiro.
É um filme raro, com um tom poético onde qualquer adjetivo se torna pequeno diante da sua grandeza, dessas coisas apaixonantes e encantadoras que fazem a existência valer a pena.
E o melhor é que essa obra prima do cinema nacional será apresentada na próxima quarta-feira, dia 04 de abril, às 19 horas através do Projeto Cine Sesc.
Convido os amigos leitores para prestigiarem essa bela iniciativa e confirmarem sua presença através do meu email.
Aguardo vocês no Cine Sesc!!!

quinta-feira, março 01, 2012

Atrás dos Olhos Seus


A noite começara bonita, o céu cortado por um tom róseo que se expandia ao laranja. Roberto nem se preocupou em procurar por uma sombra, estacionou o carro na porta do hospital. A rua ia perdendo o movimento, com o cair da noite o ritmo ia ficando mais lento e achar uma vaga privilegiada não fora difícil.
Lá dentro Dona Rosa se recuperava da cirurgia de hérnia, era o tipo de mulher que já havia sido bonita. Ela se alegrou ao ver o filho chegar para visitá-la, sabia que não era fácil para ele sair de casa depois que o Mal de Parkinson se agravou. Conversaram sem pressa como quem degusta a primeira conversa, era como se estivessem se reencontrando.
Roberto olhou para o relógio e percebeu que já havia passado a hora de tomar a medicação que amenizava seus tremores. Lamentou não poder ficar com aquela nova mulher, antes de ir embora a abraçou com cuidado e beijou a sua testa.
Desceu por uma grande rampa se sentindo um novo homem, capaz de reconquistar tudo aquilo que havia perdido, inclusive Elisa... Principalmente Elisa...
Antes de entrar no carro pensou que iria tentar mais uma vez, só iria passar em casa para tomar o remédio porque os tremores já começavam a aparecer.
Sentou-se no banco, olhou ao seu redor e sem saber como e porque desapareceu...
Agora, no banco do carro, havia um corpo, os olhos abertos, as mãos sobre o colo e o início do fim.
O cérebro parou, depois o coração, mas os olhos não se deram conta do fim de Roberto, estavam abertos, ainda vivos e podiam ver a vida que passava do lado de fora do carro. Eles testemunharam a diminuição do ritmo da rua. Um casal apaixonado namorava na praça. Tentaram pensar em Elisa e seus cabelos loiros, mas algo os impedia, era a falta de um cérebro vivo. Naquele instante tudo que se tinha era o presente, o momento fugaz que a cada segundo se esvaia com a morte das células.
À medida que a noite adensava o corpo de Roberto ia se tornando cada vez mais rígido, o sangue depositado nas extremidades formavam hematomas e iam provocando a morte lenta dos tecidos, mas os olhos continuavam vivos sem saber que contemplavam o brilho da lua cheia pela última vez.
Logo chegou o dia e por causa do calor do sol e dos gases expelidos pelo cadáver os vidros ficaram embaçados e olhos testemunharam o correr da vida começar de novo. As pessoas passavam apressadas sem perceber que dentro do carro havia um homem morto com olhos ainda vivos.
O destino é mesmo irônico, Roberto estava a poucos metros de um hospital onde o intuito é salvar vidas, se ele pudesse pensaria no que teria acontecido se tivesse demorado mais alguns minutos com a mãe. Talvez pudesse ter sido salvo ou quem sabe seus olhos ávidos em viver pudessem ter sido usados num transplante.
De repente o telefone toca, para os olhos o som produzido pelo aparelho não significava nada, mas de alguma forma perceberam a luz que acendia no visor. Já não era possível ler, mas do outro lado estava Elisa com a intenção de acertar todos os detalhes do divórcio. Obviamente ficou furiosa com a falta de consideração de Roberto em não atender, pensou que isso, somado a tantas outras coisas, é que lhe davam a certeza de estar fazendo o certo. Mal sabia ela que Roberto não mais existia e que seu corpo apodrecia dentro de um carro.
O dia foi passando e os olhos impassíveis testemunhavam a solidão, alheios a morte iminente. Aos poucos as últimas células foram devorando umas as outras, na tentativa vã de sobreviver, até que chegaram aos olhos que a essa altura já estavam queimados pelo sol causticante. Eles sequer esboçaram reação já estavam cansados de tamanha indiferença, num último ato tentaram recordar do rosto de Elisa, mas quando a imagem estava quase se formando o que ainda restava vivo morreu de vez...

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Sessão Cinema - Apenas Uma Vez (Título Original: Once)



Renato Russo disse certa vez que disciplina é liberdade. Muitos filmes independentes pecam no quesito disciplina e se atrapalham na ânsia de criar algo novo, que de tão cult se tornam incompreensíveis.
Apenas uma vez é desses filmes raros que não tem medo de arriscar ao falar do amor sem fazer disso um clichê, a linguagem é clara, real, filmada em câmera digital sem tripé.
O baixo orçamento não compromete a história desse casal de músicos que se conhece nas ruas de Dublin. Ela (Markéta Irglová) é uma pianista desconhecida, deixou o marido na Tchecoslováquia para tentar dar uma vida melhor à filha e vende flores na rua. Ele (Glen Hansard), desiludido com o amor, conserta aspiradores de pó na empresa do pai e nas horas vagas canta nas ruas.
Os nomes dos personagens nunca são ditos e esse toque sutil e delicado mostra o contraponto desse filme que descarta o clichê do amor romântico. O diretor constrói a história de duas pessoas reais, que poderiam ser qualquer um nós, vivendo a alegria e o medo de se apaixonar.
Nessa película a música conta a história dos personagens sem parecer piegas ou forçada, tudo é muito natural, sem longos diálogos que tentam explicar o inexplicável.
Em Apenas Uma Vez a história de amor ultrapassa o mero final feliz que torna as relações amorosas tão limitadas, as expectativas são engolidas pela realidade, mas a emoção está presente nos pequenos detalhes e fica impossível não se apaixonar por cada pedaço, por cada música, por cada gesto.
É um filme manso, que trata do mais genuíno amor, aquele momento que acontece raramente e não, necessariamente, precisa ser vivido para ser bonito.
Uma experiência sublime que espero não ter sido única, pois, como bem disse Pedro Miranda, merecemos filmes como esse MAIS de uma vez.

Ficha Técnica
Título Original:Once
Gênero:Drama
Duração:1 hr 25 min
Ano de lançamento: 2006
Distribuidora: Fox Searchlight Pictures / Imagem Filmes
Direção: John Carney
Roteiro: John Carney
Produção: Martina Niland
Música: Glen Hansard e Markéta Irglová
Fotografia: Tim Fleming
Direção de Arte: Riad Karin
Figurino: Tiziana Corvisieri
Edição: Paul Mullen

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Sessão Cinema - Meia Noite em Paris


A semana começou com as indicações ao Oscar que acontece no dia 26 de fevereiro, em Los Angeles, no teatro Kodak.
Entre os indicados ao prêmio de melhor filme está Meia Noite em Paris, escrito e dirigido por Woody Allen, que também figura na categoria de melhor roteiro original e produção.
Meia Noite em Paris é um filme envolvente, marcado por grandes atuações. Owen Wilson surpreende no papel de Gil, um roteirista cansado de Hollywood que sonha em encontrar na cidade luz o habitat perfeito para se tornar um grande escritor. Rachel McAdams completa o enredo interpretando Ignes, noiva de Gil.
Gil é um sujeito deslocado, ele não se encaixa no padrão esperado para ele, fazer compras, gastar dinheiro em restaurantes sofisticados ou ter conversas pseudointelectuais não o comovem.
Para ele o seu tempo não é agora, se pudesse viveria na Paris chuvosa dos anos 20 embalado pelas canções de Coler Porter e tendo como inspiração Hemingway ou F. Scott Fitzgerald.
No filme o expectador é transportado a Paris dos anos 20 e tem a chance de saborear toda magia existente naquela época. Woody Allen capta com maestria aquela sensação experimentada pela maioria das pessoas de pensar em como teria sido viver em outro tempo.
A princípio parece perfeito viver em outra época, desfrutar da companhia de ícones artísticos no começo de suas carreiras, perceber que eles ainda não se dão conta da sua grandeza, mas logo isso se dissipa. E a pergunta volta: Será mesmo essa a grande época?
A resposta, parafraseando Heitor Augusto, está na delicadeza de viver o presente trazendo do passado o que interessa para se criar hiatos de felicidade no hoje. E este é o grande acerto de Allen, que retoma a sua melhor forma nesse filme comovente.
E por falar em comovente aproveito para agradecer ao amigo Renato Macayba pelo gesto de me presentear com sua coleção de livros recheados de boa prosa e poesia.

FICHA TÉCNICA
Diretor: Woody Allen
Elenco: Kurt Fuller, Owen Wilson, Marion Cotillard, Michael Sheen, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Rachel McAdams, Gad Elmaleh, Carla Bruni, Nina Arianda, Mimi Kennedy, Corey Stoll, Manu Payet
Produção: Letty Aronson, Jaume Roures, Stephen Tenenbaum
Roteiro: Woody Allen
Fotografia: Darius Khondji
Trilha Sonora: Stephane Wrembel
Duração: 94 min.
Ano: 2011
País: EUA/ Espanha
Gênero: Comédia Dramática