Guiada pela curiosidade do nome tive uma grata surpresa ao assistir Insolação, filme nacional dirigido pelo estreante Felipe Hirsh e Daniela Thomas.
É um filme difícil de classificar, mas tomo emprestadas as palavras de Celso Sabadin para dizer que é pura poesia.
Não é um filme fácil, com histórias lineares, não tem começo, meio e fim e isso intriga, perturba, incomoda, acho que pode não agradar a todos, pois é preciso um grau de abstração para mergulhar nas questões de cada personagem.
O filme tem um ar teatral e inicia com um monólogo interpretado por Paulo José sobre a busca insólita do amor. Talvez essa seja a única faceta constante em todos os personagens, a busca pelo amor.
As histórias se passam em Brasília que numa magnífica direção de arte e fotografia aparece vazia, abandonada, como um sonho que começa, é edificado, mas que depois perde o sentido.
Para mim a escolha de Brasília traz uma aridez tocante, porque, de certa forma, a cidade expressa essa solidão, mesmo na normalidade do dia-a-dia, no chamado plano piloto quase não se vê gente na rua e os carros passam rápido, tudo é muito longe, quase inalcançável, assim como a busca pelo amor.
Os personagens vivem histórias desconexas entre si que vão desde o menino que experimenta a ternura do primeiro amor por uma moça mais velha, vivida por Leandra Leal à inquietação de uma ninfomaníaca interpretada por Simone Spoladore. A propósito, Simone Spoladore está magnífica, ela traz uma humanidade cortante, doída a personagem, talvez uma de suas melhores interpretações.
Paulo José é um suicida mal sucedido que recita textos e versos numa tentativa de explicar o inexplicável do amor. O personagem traz um tom áspero e macio, quente e frio, terno e violento como água prestes a entrar em ebulição.
As falas são longas, às vezes permanece um silêncio aterrador, há uma monotonia necessária na construção de cada linha, mas que com abstração e paciência comove, toca no mais intimo do Ser humano.
Talvez pela raridade da obra seja tão difícil descrever, dar nome ao sentimento experimentado, quantificar a emoção. Sei que nem todo mundo verá a beleza que enxerguei, mas aí reside o mistério da arte e também do amor, algumas vezes a gente embarca, outras não. O importante é se permitir, ao menos, tentar.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Felipe Hirsch, Daniela Thomas
Elenco: Paulo José, Antonio Medeiros, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, André Frateschi, Maria Luisa Mendonça, Leandra Leal, Jorge Emil, Daniela Piepszyk, Emilio di Biasi.
Produção: Sara Silveira, Beto Amaral, Pedro Igor Alcântara, Maria Ionescu.
Roteiro: Will Eno, Sam Lipsyte
Fotografia: Mauro Pinheiro Jr.
Trilha Sonora: Arthur de Faria
Duração: 93 min.
Ano: 2009
País: Brasil
Gênero: Romance
Cor: Colorido
Distribuidora: Europa Filmes
Classificação: Livre