segunda-feira, maio 30, 2011

Sessão Cinema – Insolação

Guiada pela curiosidade do nome tive uma grata surpresa ao assistir Insolação, filme nacional dirigido pelo estreante Felipe Hirsh e Daniela Thomas.

É um filme difícil de classificar, mas tomo emprestadas as palavras de Celso Sabadin para dizer que é pura poesia.

Não é um filme fácil, com histórias lineares, não tem começo, meio e fim e isso intriga, perturba, incomoda, acho que pode não agradar a todos, pois é preciso um grau de abstração para mergulhar nas questões de cada personagem.

O filme tem um ar teatral e inicia com um monólogo interpretado por Paulo José sobre a busca insólita do amor. Talvez essa seja a única faceta constante em todos os personagens, a busca pelo amor.

As histórias se passam em Brasília que numa magnífica direção de arte e fotografia aparece vazia, abandonada, como um sonho que começa, é edificado, mas que depois perde o sentido.

Para mim a escolha de Brasília traz uma aridez tocante, porque, de certa forma, a cidade expressa essa solidão, mesmo na normalidade do dia-a-dia, no chamado plano piloto quase não se vê gente na rua e os carros passam rápido, tudo é muito longe, quase inalcançável, assim como a busca pelo amor.

Os personagens vivem histórias desconexas entre si que vão desde o menino que experimenta a ternura do primeiro amor por uma moça mais velha, vivida por Leandra Leal à inquietação de uma ninfomaníaca interpretada por Simone Spoladore. A propósito, Simone Spoladore está magnífica, ela traz uma humanidade cortante, doída a personagem, talvez uma de suas melhores interpretações.

Paulo José é um suicida mal sucedido que recita textos e versos numa tentativa de explicar o inexplicável do amor. O personagem traz um tom áspero e macio, quente e frio, terno e violento como água prestes a entrar em ebulição.

As falas são longas, às vezes permanece um silêncio aterrador, há uma monotonia necessária na construção de cada linha, mas que com abstração e paciência comove, toca no mais intimo do Ser humano.

Talvez pela raridade da obra seja tão difícil descrever, dar nome ao sentimento experimentado, quantificar a emoção. Sei que nem todo mundo verá a beleza que enxerguei, mas aí reside o mistério da arte e também do amor, algumas vezes a gente embarca, outras não. O importante é se permitir, ao menos, tentar.

FICHA TÉCNICA

Diretor: Felipe Hirsch, Daniela Thomas

Elenco: Paulo José, Antonio Medeiros, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, André Frateschi, Maria Luisa Mendonça, Leandra Leal, Jorge Emil, Daniela Piepszyk, Emilio di Biasi.

Produção: Sara Silveira, Beto Amaral, Pedro Igor Alcântara, Maria Ionescu.

Roteiro: Will Eno, Sam Lipsyte

Fotografia: Mauro Pinheiro Jr.

Trilha Sonora: Arthur de Faria

Duração: 93 min.

Ano: 2009

País: Brasil

Gênero: Romance

Cor: Colorido

Distribuidora: Europa Filmes

Classificação: Livre

3 comentários:

  1. Oi, Letícia!

    Sim, nós conversamos um pouco sobre este filme ontem. Bom, eu não sou propriamente um fã de cinema, sabe? É muito difícil que eu pare na frente da TV ou de uma tela e assista a um filme, acredita? Pois é, pode me chamar de ET...rs

    Mas é como digo: há filme e filmes. Este parece ser um bom filme. E traz uma "busca insólita do amor" - que acaba sendo, na verdade, a busca de todos. É interessante essa busca porque quando se encontra, o que vem depois? Uma busca pela felicidade. Veja o caso do suicida mal sucedido em sua tentativa: agora ele tenta explicar através de versos e prosa o que é o amor que um dia ele pode ter encontrado, mas perdido porque quis sempre o "algo mais". Incompletos que somos, queremos sempre mais, não basta o copo cheio, ele precisa transbordar. Aí reside o nosso erro - ou erro de boa parte das pessoas.

    Desculpe essa "viagem" toda...rs Se a sua resenha - muito bem escrita, por sinal - já motiva esses devaneios malucos que eu escrevi, talvez o filme tenha algo a mais a dizer e para refletir :)

    Depois "nóis proseia" mais sobre isso :)

    Abs!

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  2. Bom que tenha gostado, Letícia! Realmente, não sou fã da sétima arte, mas vez em quando tem filme bom por aí, né? Dá até para passar um tempo diante da tela...rsrs

    Eu é que agradeço as suas visitas e sempre ótimos comentários! :)

    Abs!

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  3. cinema brasileiro tem muita coisa boa, o ultimo que vi foi Romance, Guel Arraes, mas ainda quero ver A Máquina. Bjs, linda.

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